sexta-feira, 28 de março de 2014

Lisbon revisited

Sim: quero tudo.
Já disse que quero tudo.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é foder.

Tragam-me falos erectos
E não me falem em moral!
Tirem-me daqui malabarismos sem ritmo!
Tragam-me tesão, tragam-me arte, tragam-me bocas sedentas
De cona (de cona, Deus meu, de cona!) —
Tragam-me mãos dispostas a conhecer a minha anatomia.
Tragam-me palavras rubras, lúbricas.
Tragam-me todos os deuses do folguedo.

Se têm vergonha, guardem-na!

Sou uma técnica, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doida, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casada, útil, quotidiana e respeitável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o caralho sem mim,
Ou deixem-me ir sozinha para o caralho!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero decidir sozinha.
Já disse que sou assim!
Ah, que maçada quererem que eu vá para onde os outros querem sem eu querer!

Ó jardim das delícias — o mesmo dos meus sonhos molhados —
Eterna tusa cheia e perfeita!
Ó macios lençóis de quarto de luxúria,
Pequena verdade onde o paraíso cabe inteiro!
Ó cidade revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Se tudo me derdes, tudo vos darei, nada eu sou que não sinta.

Se não, deixem-me em paz! Não tardo, que eu a vir-me nunca tardo...
E enquanto tardais a chegar e a regozijar, quero
Preparar-me para tudo totalmente, fodengamente vos dar.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Lugares conocidos e seus profundos sentidos conotativos (4)
— Contributos semênticos para um dickcionário messalínico —

O Dickcionário de Méssaline continua...

Chamar os bois pelos nomes
Méssaline não gosta de chamar os bois por «boizinhos» ou por «animal com chifres grandes, macho da vaca». Não gosta da linguagem politicamente correcta, nem na vida nem na cama. Por isso usa os termos «cona», «piça», «esporra», «foda» com relativa frequência. Se, por vezes, recorre a sinónimos, é apenas por os considerar bem enfiados no contexto em que surgem. Por achar que os semas que adquirem enriquecem as conotações pretendidas, quer eróticas, quer humorísticas. Deixemos as palavras «vagina», «pénis» e «sémen» nas aulas de anatomia, nuas e despidas de erotismo, e «relação sexual» nos frios consultórios de psicólogos e afins.

Estar aí para as curvas
Ah, como excita Méssaline um par de olhos cravados nas curvas com que a natureza a abençoou, ao passar na rua, ao entrar num café, quando resolve exibi-las sob umas calças justas e umas botas de salto alto! Já na cama, gosta que lhas apalpem com as mãos e com os olhos, que as adjectivem generosa e inspiradamente. Além disso, gosta de foda ballética cujo design se baseia no princípio da curva. E, sumo maná, fechar a dança de rodeios e meneios com um lanço de esporra sobre uma das suas curvas nadegais, mamais, ventrais...

... e para as contra-curvas
Da estrada, por exemplo. Uma estrada serpentina acaba, normalmente, por ser um bom cenário de pecado. Por ser caminho de montanha, os trajectos alpinos, pirenaicos, pico-europeus, da nossa Serra da Estrela, do Gerês ou do Marão são imperdíveis...

P. S. Nas línguas eslavas, «kurva» significa «puta»... et pour cause.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Nostálgica, ma non troppo

Não sei por quê, mas hoje acordei algo nostálgica. Lembrei-me de ti, perguntei-me por onde andarás, se ainda estarás vivo. (Com a tua profissão nunca se sabe, se é que alguma vez se sabe alguma coisa.)

¤

Conhecemo-nos ainda eu frequentava o Secundário. Eu começara a minha actividade sexual há relativamente pouco tempo e só tinha andado por piças entre o indigente e o medianamente capaz. Tu eras oito anos mais velho, já trabalhavas e tinhas uma competência sexual e um conhecimento do corpo feminino como nunca eu antes experimentara. Começámos a namorar: um escândalo, dada a diferença de idades. E, em circunstâncias particularmente melindrosas para mim, que não vem ao caso detalhar, tornámo-nos, não apenas amantes, mas verdadeiramente próximos. Lembras-te?

Então eu entrei na Universidade e mudei-me para o Porto. Dois meses depois de eu me instalar na Cidade Invicta, tu visitaste-me pela primeira vez. (Tinhas estado fora de Portugal em trabalho.)

Apanhaste-me à saída da faculdade. Já era tarde, não deu para passarmos em casa a aplacar a fome um do outro, seguimos directamente para um jantar de curso com que já me comprometera. (Sendo mais velho e muito bonito e charmoso, fizeste enorme sucesso entre as minhas colegas.)

A noite continuou no Piolho. Estava lá um grupo de alunos de Erasmus e, aproveitando a tua ausência, um belga meteu conversa comigo. Era anódino, diria que quase pálido, noutro contexto passar-me-ia despercebido, mas era agradável e soube-me bem desenferrujar o meu francês depois de tantos anos. Já de volta, entretiveste-te a emborcar uísques uns atrás dos outros, cozinhando um ressentimento mudo. (O teu defeito, algum terias.)

A certa altura, soltaste:

— Quando é que o fedelho franciú desampara a loja?!

— Não é francês, é belga. E a loja talvez não queira ser desamparada — rematei, irritada com o teu tom de autoridade.

Voltaste para o teu copo, até que, num movimento que seria balético se não fosse primitivo, te atiraste ao rapaz. Não me lembro a que ponto chegou o vias-de-facto, porque em breve estáveis os dois no olho da rua, entre grande confusão.

Eu deixei-me ficar, indisponível para arbitrar disputas neandertais. Quando finalmente saí, bastante mais tarde, estavas à minha espera, no carro. Ignorei-te e segui o meu caminho, contigo atrás de mim em marcha lenta, tentando convencer-me a entrar:

— Para onde é que vais a pé a esta hora?

— Apanho um táxi!

— Não sejas infantil, Méssaline! Entra.

— Infantil, eu?!

A verdade é que estava frio e não tinha grande dinheiro de sobra na carteira. A contragosto, entrei.

— Para onde? — perguntaste.

No primeiro instante não percebi a pergunta, mas logo me lembrei. Com pouco mais do que monossílabos, fui dando as orientações para a residência universitária. Pelo caminho, tu desfiavas o rol de argumentos supostamente justificativos da tua atitude. Eu, amuada, interrompia o mutismo apenas para um «Vira aqui».

Chegámos à residência. Saí, batendo a porta do carro com força. Baixaste o vidro e perguntaste:

— Posso subir contigo?

Fiz-te um olhar que dispensava palavras. Virei costas e tu ficaste a ver-me desaparecer no interior do edifício.

No dia seguinte, ao fim da tarde, lá estavas de novo à saída da faculdade. Fingi não te ver, tu voltaste a insistir, eu voltei a entrar no carro.

— Pensei que o amuo já te tivesse passado.

— Pensaste mal. Deve ser da ressaca.

Tu reciclaste os argumentos da véspera, agora mais mansinho. Eu mantive-me muda até que te cansasses. Só quando te calaste é que eu falei:

— O que quero que percebas, Pedro, é que sou eu quem decide com quem me relaciono, sexualmente ou de outra forma. Eu não sou propriedade tua. Estou contigo enquanto isso me dê prazer. Se é para fazeres cenas tristes, armares-te em macho-alfa, estou fora.

Por essa altura estávamos já bastante perto da residência universitária. Com ar casual, disse-te:

— Este não é o caminho para minha casa; eu vivo na Baixa.

Lentamente, paraste o carro e olhaste para mim, os teus olhos progressivamente mais abertos, num misto de incredulidade e reconhecimento. Eu, serena:

— Ontem à noite deste-me boleia para a residência dos alunos de Erasmus. [pausa dramática] Passei a noite a foder com o belga.

Desviaste o olhar e, em silêncio, fixaste-te no volante, sem pestanejar.

És cruel — silabaste por fim.

— É para que saibas que não mandas em mim — respondi, secamente.

¤

Este episódio não terminou a nossa relação — definiu a nossa relação. Fomos amantes por mais dois anos, até que te troquei inapelavelmente por outro. Pouco depois deixaste o país e nunca mais te vi.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Se piça não é, qual é meu divertimento?

Se piça não é, qual é meu divertimento?
Mas se é piça, por Deus, como e qual?
Se boa, que é do efeito estro e imortal?
Se é má, o que adianta tal tormento?

Se vou a bom grado, onde é leito e momento?
É que a mau grado, a cópula o que val’?
Ó viva sorte. Ó deleitoso o tal
Que tanto me fode que até rebento.

E se com tesão me deixa, mais quero.
Em várias piças a cona emborca:
Me venho em altos ais, em fogo interno.

Tão cheia de galas, a foder tão porca,
Que vou findar este gentil bolero
Com P’trarca na boca, c’o ardor eterno.

sábado, 1 de março de 2014

Bibliografia fodida (6): Jules Verge

  • Vinte mil línguas sob vaginas
  • A volta ao mundo em oitenta fodas
  • Enterra a tua
  • Dois anos de fodas
  • A esporra do Capitão Branican
  • As fodas do Capitão Grant