sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Há homens assim

Era uma tarde de verão e ele enviou-me um sms: «Vem sentar-te comigo, Méssaline, à beira do rio».

Hesitei, pois a luz aguda e o calor ainda picavam e, principalmente, porque estava com disposições muito mais forniciosas do que contemplativas. Aceitei com a condição de ser mais tarde, já perto do crepúsculo, hora conselheira em matéria de lascívia.

Lá fui, estava ele, muito sossegadamente, fitando as águas levemente correntes. Pediu-me para enlaçarmos as mãos porque a vida passa como o rio, dizia.

Obedeci, mas aquela água a fluir, o levantar das brisas vespertinas e as mãos quentes começaram a fazer-me subir calores e humores lubricosos. Pus-me à sua frente e levei as suas mãos até às minhas mamas, lembrando-o de que aí, sob essa carne, para além de a vida também passar, corre um rio de sangue quente.

Insistiu que fôssemos inocentes, que tudo passa e nenhum envolvimento vale a pena. E eu, pousando-lhe a mão aberta sobre a braguilha:

— Deixa-te de brincar às crianças adultas antes que a tusa passe como a vida.

— Mas depois disso nada regressa, não há mais nada.

— Se ficares sempre para aí parado, a tusa nunca há-de vir nem partir, nem regressar.

— Vai tudo para muito longe, para o pé do Fado.

— Eu é que vou para bem longe, se continuas com essas conversas de empata, vou para o lado da Foda.

— Não vale a pena cansarmo-nos. Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.

— Então, pelo menos gozemos. Gozemos até ao fim, até ao fundo.

— Mais vale saber passar silenciosamente, sem desassossegos grandes. Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz.

— Deixa-me começar, que o mastro logo se levantará, pronto para zarparmos desta pasmaceira e gritar até revirarmos os olhos de inveja aos passantes. Iniciemos esta viagem de vaivém, assim, suavemente, a teu gosto, amigo.

— Amemo-nos apenas tranquilamente.

— Sim, pode ser, mas totalmente. Osculemo-nos pelo corpo todo, por dentro e por fora, demos apertados amplexos e permutemos carícias íntimas sem limites.

— Mais vale estarmos sentados ao pé um do outro ouvindo correr o rio e vendo-o.

— Lá vens tu com a mesma história. Olha, ficamos a ouvir e a ver o rio, mas um enfiado no outro.

Devíamos colher flores.

— Pode ser, mas para me excitares com uma chuva de pétalas sobre o meu colo, que depois banharás com o teu rio, com a tua espuma, e para ficarmos assim não crendo em mais nada a não ser no presente da nossa divina foda, ali debaixo daquela sombra. Sempre que por ali passarmos teremos lembranças ardentes. Ou vamos ficar aqui como patetas inocentes?

— Se apenas fitarmos o rio, quando já não estiver contigo, nenhuma lembrança te ferirá.

— Quando aqui não estiveres, também colherei flores com que ornarei a minha fronte de ninfa pagã, em tua homenagem. Foderei com o barqueiro a lembrar-me da foda que dei contigo, aqui, mas só se agora te deitares comigo à beira-rio e me satisfizeres as vontades da carne. Levanta-me as saias até ao regaço, lambe-me e morde-me a cona até ela se vir na tua boca e depois, vem-te, em cascata, em rio, sem contenção, que isso que propões, Ricardo, é para a casta e sonsa Lídia.

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