segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Fornicografias

Traço, sozinha, no meu gabinete de engenheira, o plano.
Firmo-me, aqui isolada, na proposta de uma foda de arromba
Para apresentar ao chefe.

Ao lado, acompanhamento banal,
O taque-taque estalado do sofá contra a parede.
Que monotonia esta cópula alheia!
Que seca esta regularidade!
Que bom não foder assim!

Outrora, quando fui outra,
Eram só cavalgadas em castelos e cambalhotas com pajens.

Outrora, quando fui verdadeira ao meu sonho,
Eram grandes vikings do Norte, fodilhões até aos cornos,
Eram grandes machos do Sul, de opulentas vergas.

Outrora.

Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
O taque-taque estalado das tábuas no martelanço.

Temos todos duas vidas:
A verdadeira, que é a que sonhamos com sexo a sério,
E que continuamos sonhando, adultos, num substrato de lençóis;
A falsa, que é a que vivemos em convivência com os beatos e os betos,
Que ou não fodem ou acasalam com a convicção de quem pica o ponto,
Aquela em que acabam por nos meter a pudicícia na cabeça.

Na outra não há pudicícias, nem polícias do fornício,
Há só ilustrações pornográficas,
Grandes livros coloridos, para ver às escondidas;
Grandes páginas a cores para recortar e fazer punhetas.
Na outra somos nós,
Na outra vimo-nos;
Nesta mirram-nos os pitos e as piças, que é o que viver assim quer dizer;
Neste momento, pela tusa, vivo na outra...

Mas ao lado, acompanhamento previsível,
Erguem os gemidos dos que se estão a vir banalmente,
Coro a que a minha cona se junta, mas viciosamente jubilosa,
Ao executar o plano de pinanço com o chefe,
Que já me agarrou pelas ancas e me empurrou contra a parede.
E começa o trás-trás do lado de cá.

Ah, agora como outrora.

Sem comentários :

Enviar um comentário